quinta-feira, 19 de agosto de 2010

Acordei com isso na cabeça (parte 3)

[...]
   No dia seguinte, decidiu que voltaria ao parque. O que ela sentiu no dia anterior a deixou apavorada, mas ela queria enfrentar esse sentimento.
   Começou a caminhada do mesmo local e seguiu na mesma direção do dia anterior. Seu corpo tremia, mas não era de frio. Era ansiedade, mas aquela ansiedade boa de sentir. Um frio na barriga que dava vontade de sorrir... Quando perebeu que seu rosto estava tomado por um sorriso bobo, parou, respirou fundo e continuou, mas agora com uma expressão séria, de poucos amigos.
  Decidiu que hoje se sentaria em outro banco, para fazer suas análises. Mas dessa vez estava previnida, tinha com ela um bloco de notas e uma lapiseira. Tudo ali podia virar inspiração para algo novo...
   O tempo passou e ela nem notou. Quando viu, já tinha escrito páginas e páginas sobre as coisas a sua volta. Tomou um sorvete e mudou de lugar, voltou ao banco do dia anterior.
   Ali ela não conseguia pensar, sentia-se observada. Sua alma estava aquecida e o frio na barriga de outrora voltara. Olhou para os lados e não viu nada. Resolveu então que não escreveria, que só queria ver o tempo passar...
   Depois de alguns minutos, a sensação voltou. Mas dessa vez, ao olhar em volta, o viu ali, parado e sorrindo. Era como se o tempo tivesse parado e todo mundo sumido do parque. O sorriso dele era brilhante e impressionante. As luzes douradas do Sol o deixavam mais bonito ainda.
   O coração dela passou a bater totalmente acelerado e descompassado. A cada passo que ele dava em sua direção, mais ar lhe faltava...
[...]

fim. xoxo

Acordei com isso na cabeça (parte 2)

[...]
   Duas horas se passaram e ela ainda estava ali. A sede veio, o cansaço também, mas ela não quis ceder. Continuou a caminhar e estava disposta a só sair dali quando finalmente pensasse em como seria feliz de novo. Aquele trágio acidente tinha tirado muitas coisas dela, mas ela pretendia encontrar outras para substituí-las.
   Quando tudo deu errado e ela fugiu para tentar esquecer, foi quando ela mais sentiu. A saudade veio forte, o medo... e a solidão consumindo-a a cada segundo do dia. Se afundou no trabalho disposta a deixar a vida antiga para trás, mas era aí que ela sentia-se mais perseguida pelo sofrimento.
   Afastou de novo todos aqueles pensamentos horríveis. O dia estava magnífico! Era isso que ela queria pensar. Passou a observar as pessoas a sua volta e começou a criar teorias sobre quem elas eram. Tomou gosto pela brincadeira e resolveu sentar-se por um tempo.
   Um casal de idosos juntos há 52 anos, uma babá que tomava conta de uma criança que era meio deixada de lado pelos pais, um jovem que acabara de se mudar para a cidade... Opa, aquilo lhe chamou a atenção! Ela já tinha criado milhares de teorias naquela manhã, mas aquela foi a que mais a impressionou.
   Era como se ele fosse uma parte dela... Aqueles olhos de um azul profundo cheio de sentimentos perdidos, aquele cabelo perfeitamente bagunçado pelo vento, as bochechas rosadas por causa do Sol. Ela ficou ali parada, sem conseguir reagir. Milhares de pesamentos diferentes em sua cabeça começaram a confundí-la.
   Saiu correndo do parque e voltou para casa. [...]

Acordei com isso na cabeça (parte 1)

   Era manhã de sábado. O sol batia quente em seu rosto, parecia um chamado para a vida lá fora. Ela não tinha vontade de levantar, mas alguma força estranha queria arrastá-la dali. Há tempos que o Sol não brilhava, que o céu não ficava tão azul... era um convite para que ela voltasse à vida.
   Depois de comer e tomar um banho gelado, colocou os pés para fora de casa e decidiu que finalmente conheceria o Central Park. Morava em New York há meses, mas nunca tinha dado um passeio. Todos os dias passava por lá a caminho do trabalho, mas sempre esteve ocupada demais para entrar.
   Logo que abriu a porta, sentiu suas bochechas serem levemente beijadas pelo vento. Logo em seguida, um arrepio frio subiu por sua espinha e ela quase desistiu. Mas pensou melhor e resolveu que aquilo era um aviso de que ela finalmente tinha voltado a sentir, que a tristeza passou. Um luto de tanto tempo, uma dor sem fim tinha que ir embora e ela estava determinada que aquele seria o momento.
   Quando finalmente chegou ao parque, fico bestificada. Era absolutamente INCRÍVEL. Aquele pedaço verde no meio de tanto concreto lhe soava como poesia. Lágrimas ensairam para brotar de seus olhos, mas elas finalmente conseguiu as controlar, depois de tanto tempo. Com a mente limpa, ela começou a andar. Andava sem destino, pretendendo parar apenas quando suas pernas pedissem arrego. [...]